terça-feira, dezembro 22, 2009

Tudo é Tão Diferente Segunda-Feira de Manhã.

Jogou o molho de chaves sobre a mesa da cozinha ; despreocupada , ela cansara mesmo de se preocupar . Exausta , queria alguém que lhe preparasse o jantar . Mas não havia ninguém . Todas aquelas pessoas que ali passavam o fim de semana e o feriado iam embora , e restava ela , completamente só .
Frustrava-se. Ficava só naquele apartamento de segunda a quinta , mas não tinha tempo de ler seus livros , de ver seus filmes , de escrever sus textos , pintar seus quadros , decorar as paredes pálidas do 6º andar .
Ligou para sua mãe , disse que seu quarto estava cheio de formigas e que dormira na sala á uma semana , pois não conseguia desfazer a fila de formigas .
Sua mãe então lhe disse que seu pai lhe trouxera 3 caixas de morango , sua fruta favorita , mas que os morangos mofaram , e só se salvara um prato , que já fora devorado por primos , sobrinhos...
Não entendia porque se auto-punia com trombadas nos poucos móveis, arranhões , não entendia quando se escorava na parede e rasgava a pele das juntas dos dedos finos das mãos , só sabia que queria ver as marcas e os salpicos de sangue . Parecia dizer que os mesmo dedos que proporcionam carícias , também proporcionam dor.
Atravessava suas madrugadas com Chico nos ouvidos; achava tudo tão diferente na segunda-feira de manhã quando subia a Consolação em desespero , para não perder o metrô que a levaria para a faculdade.
E ele dormia na cama cheia de livros e papéis que sempre estavam espalhados . Pois após o vinho , e os desenhos que fazia dela , sobravam-lhes apenas os lençois.
Andando de meias pela casa. Uma surpresa . Haviam morangos sobre a mesa. Os raios de sol se refletiam nos vidros da janela, se escondia atrás dos prédios aquela luminosidade natural.
Já não era mais segunda-feira de manhã , nada mais lhe causava estranheza .

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Tanto e Quanto .

(Para Conchita . )
Quero ver o amanhecer muitas outra vezes com você, na Paulista.Quero muitos porres de vinho,seguidos de poemas de Fernando Pessoa. É o que quero. Estirar-me no chão frio de seu quarto , vendo o teto girar , o corpo amolecer , e apenas ouvir você declamar , com certa moleza na voz, os poemas de Alberto Caiero , e Ricardo Reis , e Álvaro de Campos .
Quero tanto quanto preciso.
Quero tanto.
Tanto quanto antes.
Preciso de nossas loucuras, nossos saltos ás escuras , de risos e sorrisos , de cometer atos impensados , que para nós significam tanto . Quero me atrasar , chega de ter de limitar esse tempo , quero perder o ônibus , quero perder a hora porque não consegui acordar pois dormimos assim que o dia acordara .
Andar sem rumo , sem pretensão , sem esperar nada , sem criar roteiros . Pegar o trem , descer além . Ouvir cores , cheiras sabores , transcender o físico e o impensável.