terça-feira, fevereiro 22, 2011

Sentindo/Sentidos

Há, eu gosto de cheiro de livro novo,

E de livro velho,

De velhos tempos,

Tempos que deram adeus da janela do trem,

E que não retornaram, como um dia fora prometido.

Gosto de telefonemas de madrugada,

Pode me acordar.

Me acorda com um abraço de quebrar costelas,

Abraço em manhãs de inverno e garoa,

Garoa mantendo-nos presos aqui.

Gosto de andar de metrô,

Escrever no metrô,

Ir da primeira á última estação e não descer em nenhuma delas.

Santos-Imigrantes, Consolação, Trianon-Masp, Brigadeiro.

Linha verde.

Ainda não sei se gosto ou desgosto das lembranças que larguei em cada uma delas,

Mas talvez deva ser assim,

Lembrar do choro, porém do riso,

Do riso das pessoas que estavam lá e que você amou, mas que ficaram por lá, e não vieram com você,

Então prefiro dizer que gosto de lembrar do riso de quem eu trouxe pra minha vida, e que hoje está aqui, perto ou longe, em um pedaço de papel ou num telefonema.

Hoje com a vida rumando para algum lugar sei que tudo foi válido, por mais doloroso ou louco,

Por mais inconsequente ou sublime,

Foi tudo meu.

E se hoje a vida tem algum sentido, foi porque senti tudo isso.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

station to station

E então, como estão e como são as coisas desse lado da plataforma?

Faz frio? Trás angústia? Pois digo angústia porque sinto, entende? Quer dizer, estar indo para o lado oposto é amedrontador.

É um medo de não saber ordenar os passos, um medo de me perder, pegar o metrô errado, e depois o trem, e ir parar longe.

E se eu dormir? Me diz se eu dormir, o que acontecerá?

Vou perder a estação, o local combinado, vou ir parar longe também, não é?

Então diga-me que o caminho é seguro, e que você sabe para onde está indo.

Mas me diz a verdade! Diz que eu quero acreditar, que também está perdido e precisa se encontrar,

Quer um porto para ancorar...

Diz que o encontro, o porto, é tudo que procuras nesse subsolo frio, quieto, cheio de antipatia,

Cheio de pressa, de gente,

São Paulo.

É vazio, é o buraco, é fim.

 

terça-feira, fevereiro 15, 2011

prólogo.



- Me devolve a sua blusa que é minha?





-Não, porque aqui faz frio, lembra?





- O seu frio é impossível de ser aquecido. Você precisa de muito mais do que minha velha blusa de lã para se sentir bem. Seu frio está em você, e apenas em você.