quarta-feira, julho 28, 2010

um sorriso de malabarista.

Guarda-chuva flutuando pela avenida,tigela vermelha de porcelana sobre os joelhos ossudos.Come cereal sentada no degrau da porta de casa.Claridade das dez horas cegando a vista.
Noite passada ficara encantada com o malabarista de farol que era por si só encantador,com um sorriso trágico pintado na face.
E a tragédia que vivia em seu íntimo era bem diferente daquele sorriso.
O perfume ainda sobrevivia nos punhos da blusa provando que foi real.O perfume lhe trazia uma sensação de conforto e saudade,como se tivesse um porto para ancorar,e então por poucos segundos ela deixava a tragédia esquecida no sorriso inesquecível.
Pára e pensa que a vida nunca fora tão doce...
-Não tão doce quanto o perfume seu.
-Talvez tão doce quanto as pequenas doses de vingança que me empurrou garganta abaixo esta noite,não?

Beijou-a,olhando receoso para os lados.
-Eu não posso deixar de ser feliz.
A vida que era doce em seus detalhes começara a se desconstruir.Sem entender a menina sentiu no peito um vazio e vontade de desabar em lágrimas .
Respirava fundo,queria falar mas algo impedia. Garganta amarrada a força.
-Você está agoniada?
O máximo que conseguiu foi afirmar com a cabeça.Os dedos inquietos,mordidos.
"Estou é agonizante,e dói,e eu não quero mais sentir isso,então pára!"
Emudecidos,pegaram o trem.
Distantes,como nunca antes.
Como o sorriso de um malabarista de farol sem pintura no rosto.
"you know,you must try the new ice-cream flavour,do me a favour,look at me closer,join us and go far,and hear the new sound of my bossa nova..."

quarta-feira, julho 14, 2010

Para Bruna, a minha menina de canelas finas.
Tirei minhas galochas de naipe de baralho de dentro da caixa roxa em que estavam guardadas.
Vou colocá-las e ir encontrar a menina mais linda do mundo.
Passar o dia frio e de garoa com ela conversando sobre os dissabores de nossos desamores,
Ou sobre os sabores de nossos amores?
Talvez as duas coisas.
Tomar cerveja gelada mesmo que congele os dedos finos.
Rir rir rir e chorar um pouco .
Tatuar botões de roupa na pele para eternizar o encontro,o acaso que uniu, e tudo o que temos vivido.
E sobrevivido,acima de tudo.

segunda-feira, julho 12, 2010

uma semana.

Dois cigarros. Quatro cigarros. Logo um maço. Dois isqueiros amarelos. O que você me deu e que já nem funciona mais,e eu ainda guardo . E desde então só tenho conseguido comprar isqueiros amarelos . Loucura.
Outro maço e você não vinha .De um lado para o outro eu andava,e me perdia no pequeno espaço que me limitava. Trianon-Masp. Você não aparecia. Duas horas ou mais.No meio daquela avenida e daquelas pessoas sem rosto. Escurecia.Perdi a conta de quantos cigarros fumei à sua espera.
Anoitecia,e você não vinha...
E me doía.
E eu só queria ir para casa e dormir por uma semana. Ficar uma semana sem lavar os cabelos. Uma semana com essa camiseta preta e cortada toda torta. Uma semana eu quero ficar,sem desamarrar os cadarços puídos do meu tênis vermelho. Uma semana parar sarar estes hematomas feios de meus joelhos...
Olhar perdido no chão,o que mais em uma semana?
E se aproxima,quente;
- Você tem um cigarro para me arrumar?
Te olhei,como se já não acreditasse em mais nada. E tive vontade de gritar com minha voz rouca que fumei insanamente incontáveis maços de cigarro enquanto esperava o eterno encontro de todos os dias ...
Mas não.
-Parei de fumar,lembra?
Ela sorriu,e apagou todo o resto.
Uma semana eu vou ficar,
eu vou ficar ao lado dela.

quarta-feira, julho 07, 2010

vamos pensar juntos?

- então tá, te ligo .
sensação estranha ao desligar o telefone .
como se durante o telefonema a alma fosse inteiramente sugada para o outro lado da linha.
v a z i o , é o que resta. e o silêncio dentro do quarto enquanto na rua as pessoas estão em festa.
deita-se ao lado de Caio F. , Andy Warhol,e seus dois gatos. todos espalhados na desordem de sua cama. mas é incomparável ao caos que toma conta de sua mente. é inevitável não tocar o inferno em tardes como esta, em que sabe que irá beber e dançar enlouquecida a noite inteira,mas que lhe faria bem apenas deitar-se ao lado dele e ouvir músicas que ninguém gosta,ou assistir a filmes que ninguém conhece, e conversar sobre as personalidades de Dylan .
o que é esse sentimento de que nada mais será pleno e completo como antes?
sentimento estranho perturbando,apagando o belo e deixando só a poeira que cega os olhos e faz brotar lágrimas.
poeira mostrando que estamos imóveis,e que não deve ser assim.
poeira revelando que a inocência e o encanto estão escondidos e quase apagados por conta de coisas mal resolvidas,sentimentos e atitudes de ambos que corroem por dentro.
e talvez sentir isso junto deva ser pior do que aguentar tudo sozinho. tolice essa nossa de fingir estar bem .
a voz ao telefone era distante; está longe,quando deveria estar junto !
em que ponto chegamos de achar uma camisa de força a melhor das invenções?
vamos pensar juntos porque, meu amor, é bem mais benéfico e bem menos venenoso do que sofrer junto .
e podemos sentir juntos algo que o valha , também.