sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Botões de Tartaruga pt. I


A garoa iluminada pela luz do poste parece milhões de pontos de luz , infindáveis pontos dourados , como se estrelas estivessem se desintegrando por causa do frio da cidade .
As luzes da cidade ficam difusas quando vistas através do vidro molhado do ônibus . Vidro gelado, mas queima o rosto quente e cansado que encosta involuntariamente a procura de repouso .
Rezo para não ter trânsito , não agora , está frio , faz- se noite e chove .

( Introdução para a próxima crônica ; escrito durante a ida para a facul na noite de hoje ... ou de ontem ? )

domingo, fevereiro 21, 2010

UM SETEMBRO

3 dias.
Sábado , domingo, segunda.
Porres homéricos e hilariantes.
Cafés caros.
Artistas no restaurante.
Tudo muito blasé.
A travessa da Augusta.
A noite de calor.
O quarto apertado.
A comida improvisada.
Filmes ruins no DVD.
Filme ótimo na Consolação.
O cabelo sujo.
As risadas.
O vinho velho,á muito guardado.
Chocolates e azeitonas.
Domingo de chuva ,segunda -feira de sol.
Pessoas interessantes a cada esquina.
O guitarrista meio Clown na Paulista.
Sábado,domingo,segunda.
Na terça foi difícil por a cabeça em ordem.
Segunda-feira que parecia sábado.
Terça-feira que parecia segunda.
Volto para meus desamores e dissabores de uma vida que apenas segue seu curso normal.
N o s t a l g i a .

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Ser Efêmero


Intensa, possui uma essência densa , uns olhos inquietos ; grande vocação para auto-degradação, e destruição de boas índoles e corações e intenções. Foi assim que aprendeu .
Não suporta a ideia de ser normal , igual . Não consegue ser igual nem a si mesma. Muda , corta , fura , pinta , bate , morre.
É vital ser um ser transitório e efêmero,mesmo que deteste instabilidade.
Segunda-feira com aparência de domingo não , trânsito sim; filmes hollywoodianos não, nouvelle vague sim ; calor e praia não , sol e mar sim ; lugares calmos sim , silêncio não; meninos sim , e meninas também ; inverno congelante sim , olhares gélidos não .

sábado, fevereiro 13, 2010

Quatro Horas e Sete Minutos

Preciso escalar os morros , todos eles , tanto os físicos , como os pessoais , os internos , tão meus .

Preciso deixar este sentimento de vida ordinária longe de mim .

Uma dose ,nem importa , vamos fazer valer o tempo que temos contado antes que tudo vire pó .

Quero acordar outra...

"Quero mais um uísque,outra carreira.Tudo aos poucos vira dia , e a vida pode ser medo e mel quando você se entrega e vê,mesmo de longe." Caio F.

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

LE CIEL DE MAUREEN

Você está sentado na mesma posição a quase uma hora . Você está sentado nessa poltrona a quase duas horas e já parecem uma eternidade ; não sei se é porque você de fato todos os dias senta nessa poltrona ou porque você contrasta tão bem com a poltrona e a decoração da sala que até parece que você nasceu ali , como se tivesse vindo junto no pacote . Lojas de brechó não costumam dar presentes tão bonitos na verdade , só sei que a fotografia em preto e branco de você ai é linda , pena ela não poder capturar o azul do seu olhar , que agora está tão vago . Apoia os dedos na têmpora esquerda , que também segura o cigarro , que você mais queima do que traga . Eu te olho , mas você parece não notar , parece distante demais , tudo em silêncio , tirando a vitrola que toca uma melodia instrumental francesa . É triste mas contrasta com a madrugada , com as olheiras em nossos rostos , com sua roupa preta , com meu coração apertado e o pranto entalado na garganta . Separados pela lareira que aquece , eu desisto de te chamar pelo olhar . "Apaga este cigarro e vem me agradar." Eu queria dizer ,mas seu olhar,seu olhar azul e triste me impede . Me olha , sem muito esforço, com os olhos de quem não tem pra onde ir , de quem não tem mais ninguém para ficar , assim , em silêncio , apenas observando o ser amado. Continuamos sentados, calados ,apenas sustentados pelo olhar ; no momento eu já não quero mais nada . Percebi que a simples presença de teu ser me conforta e eu posso dormir aqui,assim, sem exigir nada mais.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

ITS NEVER DIE.

( Para Ana e Bruna . )

Será que nunca morre isso dentro de nós? "Its never die." , é o que ela diz em vermelho nas paredes do banheiro .
E será que realmente podemos? "I can do it." Posso e quero pintar meu quarto com tinta de melância , é a tinta que me êxtasia,inebria, me agrada , e é a única que suporto.
Depois de toda ânsia , e de todo torpor , de toda vontade , ela me falava de morcegos na Frei Gaspar , mas eu não entendia , e misturavam-se todas as coisas assim como as substâncias ; eram palavras e risos e memórias e ônibus e trem , e alguém entendia a bagunça do cérebro da gente?
De repente , os morcegos da Frei Gaspar já apareciam na caverna de Platão , e todos vinham nas frases que ela dizia ; Nietzsche , Aristóteles , Sócrates , Demócrito, Kant , Marx , e se encontravam com Caio Fernando e Clarice Lispector e Simone de Beauvoir ... e era como se vivessemos na Berlim de Cristiane F. ou na Edimburgo de Trainspotting .
Foi ai que ela me disse que meu coração estava dentro da lata , mas eu não sabia o quanto eu mesma estava ali dentro , tanto da lata como do coração.
E ela dizia que seu cérebro estava uma linha , e eu pedia para que ela as multiplicasse com meu coração na lata , na boca , que usasse minha lata , mas nunca o coração que ali havia.
Sim, seremos estranhas no paraíso de qualquer forma , o que temos nunca morre e podemos sim fazer isto .