sábado, março 12, 2011

sete horas

Eu via nuvens, via besouros, via insetos e sentia um cheiro horrível de roupa suja, de pessoa suja.

Cheiro de hospital, material descartável, torniquete, três furos no meu braço amarelo.

Sete horas que eu estava ali.

O corredor era branco como os cabelos daquele senhor, que jazia deitado na maca logo a minha frente.

Seu filho segurava-lhe a mão como uma última esperança, seu nariz pontiagudo e a boca entreaberta retratava a fraqueza de seu corpo. Acabara de sofrer um infarto, ali, na frente de todos.

Todos achando que seus problemas eram tão maiores do que o daquele homem, e de seu filho.

De repente me senti um tanto mesquinha perante minhas atitudes, e o choro subiu a garganta ao olhar aquele filho, já de idade também, acalentar o senhor.

Senti-me sozinha, pois estava sozinha ali naquele corredor, sem mãe ou pai ou irmãos.

Me escondi no capuz da blusa, o escuro tentava me acolher...

Fazia 7 horas que eu estava ali, e aquele senhor passava diversas vezes pelo corredor, sendo empurrado naquela maca, naquele lugar estreito e cheio de barulho.

Comecei a pensar um pouco em mim. Na briga com meu pai que tive pela manhã, na minha falta de voz perante tudo de mal que acontece.

Chega uma hora que falta anseio e vigor para seguir tentando, e você simplesmente deixa que te arruínem.

Que te levem...

Sete horas que eu estava ali, três picadas nos braços amarelos.

Apesar do mal estar, ia embora com a vontade de não ir para casa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário