domingo, maio 23, 2010

adversário/adverso .

chegara com o nascer do dia . os óculos escuros escondiam as pupilas dilatadas . o olhar sofrido de cansaço . esgotada , girou a chave na fechadura da porta do apartamento .

a soleira da porta foi seu refúgio .
caiu . a testa encostada nas extremidades da porta do apartamento que se encontrava vazio e escuro .
pensou o quão pouco sua vida valia e chorou.
chorou em silêncio para não incomodar ninguém com sua dor . chorou para tentar desatar aquele nó que estava na garganta. mas ele não era tão psicológico como aquele nó que atava seu peito .

conversara a noite toda ; embriagada , as palavras fluíam bem e ela podia se expressar. ela podia jogar fora tudo o que guardara com a semana difícil que tivera .
duas garotas sentadas em um balanço , e balançavam devagar, e bebiam devagar ,mas falavam com certa rapidez. precisavam aproveitar cada segundo que tinham naquele momento para falar falar falar e questionar : PORQUE as pessoas se contentam com tão pouco ? PORQUE quem mais amavam eram quem mais as destruía ? PORQUE as pessoas são ordinárias? PORQUE até agora achavam que eram extraordinárias e se encontraram somente como pessoas que tentam a todo custo fugir da realidade?
parando para olhar para dentro de sí se perceberam fracas ,pois dependiam de muito, de outros para sobreviver.

e assim se viam no lugar daqueles que lhes faziam mal ,se viram fazendo mal a outras pessoas , mas ainda assim não paravam , era difícil parar ,e continuava difícil de entender .

e admitiram que só falavam tudo isso porque estavam entorpecidas e que se encarariam de uma forma normal , mas ilusória, na segunda-feira .
mas ela continuava a chorar em sua cama , rasgando os dedos na parede áspera,tentando chorar por algo além daquela dor interna. queria dores mais reais, queria poder dar nome ao seu choro.

a solidão lhe consumia ,os pensamentos devorando toda a crença que restara . queria telefonemas , beijos ,companhias , risos , filmes , música cantada aos gritos ,cantada junto ,cantada errada !

queria a vida em sua plenitude e sem esse medo de não ser nada ,de não pertencer a nada e a lugar nenhum . medo de não pertencer a ninguém ...

e ardia , as juntas feridas dos dedos , e as feridas juntas dessa vida curta .

" porque amanhã eu quero que você venha e me dê toda essa intensidade que nós trocamos hoje. porque eu não quero que isso acabe quando as substâncias acabarem, e nos lembrarmos de todas as mágoas que foram confessadas e fingirmos de que nada sabemos . admitimos que somos fracas e que coragem nos falta para encarar a realidade . " 22-05-10

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